terça-feira, 29 de março de 2011

Pra tudo se acabar na quarta-feira?

Eu não entendo nada de carnaval.

Sou foliã, componente, canto muito, brinco muito, vou aos ensaios, mas nem sambar eu sei .... mesmo assim, tenho muita vontade de contar o que senti ao final da apuração (o que pode muito bem ser apenas uma fantasia romântica da minha parte, distante da realidade política e administrativa que envolve o carnaval, mas sinto que além da política e administração, carnaval é feito de paixão).

Claro que fiquei triste pelo resultado, claro que eu queria ir de novo prá avenida, ver a X entre as campeãs, mas mais do que isso eu queria ter tido a oportunidade de comemorar com vocês o final de um longo trabalho, com alegria, independente da avaliação dos jurados. Sempre alguém vai ganhar e alguém vai perder, portanto, a motivação para o trabalho não pode ser essa.

Esse ano tive a oportunidade de ver um pedacinho de como as coisas funcionam por dentro, do trabalho duro, do stress, noites sem dormir, a dedicação e paixão que envolvem as pessoas que trabalham o ano todo pra que o desfile aconteça. Sinto que, por mais que estivessem tristes, essas pessoas mereciam ter tido uma festa, sem nenhum stress, sem preocupação com os pneus, com os adereços, com a evolução. Só prá eles se sentirem acolhidos, reconhecidos pela direção e pelos componentes, renovando a energia pra começar tudo de novo prô ano que vem ... senti muita falta de ver pessoas felizes, orgulhosas.

Foi legal vender todas as fantasias, eu até torci muito prá isso, mas impossível exigir das pessoas que aparecem na véspera do desfile o envolvimento com a escola e a motivação necessária para contagiar a arquibancada. As pessoas devem ser conquistadas e convencidas a comprometer-se ao longo do ano. Diretoria se compromete com chefes de ala que se comprometem com os componentes que se comprometem com a escola. Simples assim.
Queria ter ido prá avenida cantando no ônibus, era uma chance de alguns conhecerem a música tão exaustivamente ensaiada na quadra mas que nem todos cantaram na avenida ... as pessoas chegariam mais empolgadas, com outro astral ... queria também ter ficado as 3 horas de concentração ouvindo a NOSSA bateria ... queria ter voltado cantando, apesar do cansaço...
Motivar pessoas dá trabalho, mas acho que é fundamental no caso de uma escola. Motivação, paixão, tesão, seja lá que nome tenha, é contagiante e perceptível. Eu sou geralmente, uma pessoa “auto motivada”, mas nem todos são assim, as pessoas precisam ser convencidas disso pelo clima geral da escola...

Só alguns dias depois fui assistir ao DVD do nosso desfile e, puxa, como a escola estava linda ... e esses sentimentos todos ficaram ainda mais fortes porque, se antes eu não tinha noção do todo, só sabia o que acontecia na minha ala, depois de ver a escola desfilando, qualquer insegurança, por menor que fosse desapareceu e eu tive mais do que nunca a certeza de que a opinião dos jurados pouco importa quando se trabalha tanto e se vê na avenida o resultado desse trabalho absolutamente impecável, lindo, perfeito!

Mais do que tudo, ao final da apuração, queria ter ouvido a bateria tocando,
a porta bandeira desfilando,
os meninos da harmonia cantando,
queria ter visto de perto os tão elogiados fuxicos das saias das baianas e a apresentação da nossa maravilhosa comissão de frente.
Enfim, as coisas que encantaram as pessoas mas NÒS não vimos ...

Queria ter sentido a energia e a motivação da escola ultrapassando os limites da quadra, orgulhosos do trabalho realizado, orgulhosos do resultado final desse trabalho, dizendo prô mundo:
Tenho orgulho de ser X 9 !!! Dei o melhor de mim e me dou nota DEZ !!!

E, tenho certeza, essa festa seria muito mais comentada que a da Vai-Vai ... e já teríamos aí conquistado alguns pontinhos prô ano que vem ... nem que fosse só no coração de algumas pessoas ...



Sobre as decepções

Eu não sei quanto à você mas, com certeza, uma das lições que tenho a aprender nessa vida é a de que não se deve dar nozes a quem não tem dentes ... não apenas para evitar o desperdício mas também para evitar as fatais decepções.
Sempre que penso nisso lembro-me de um grande homem, em todos os sentidos, grande em altura, grande em personalidade, grande profissional, grande escritor e contador de estórias, conhecido e reconhecido em sua área de atuação, grande na paixão que colocava não só em seu próprio nome mas em tudo o que fazia. Uma grande pessoa. Na verdade uma pessoa enooorme! Bem, ele me disse uma vez que, ao contrário de mim, ele nunca se decepcionava com as pessoas. E eu quis saber qual era o segredo para se conseguir uma vida assim tão maravilhosamente tranquila e ele me disse que o segredo era bem simples, bastava não esperarmos nada de ninguém. Na época, apesar da imensa admiração que tenho por ele, a frase me pareceu um tanto arrogante. Hoje, passados muitos anos, entendo o que ele quis dizer...

A estória das nozes tem a ver com limites. Respeitar limites. Limites que todos nós temos. Às vezes impostos pela genética, às vezes impostos pela educação que recebemos e pela cultura que fomos capazes de apreender do meio e, às vezes, limites que impomos a nós mesmos e que podem ser psicológicos ou espirituais. E esse é o tipo mais comum, o mais fácil de ser superado porque depende apenas da vontade e, ao mesmo tempo, o que temos mais dificuldade de superar porque quando dizemos a nós mesmos que não conseguiremos, certamente não conseguiremos! E, se você prestar atenção, verá que fazemos isso todo o tempo.

As decepções surgem quando esperamos de alguém uma determinada atitude e a pessoa não corresponde ao que imaginamos, porque imaginamos coisas baseados em nossos próprios padrões de comportamento e em nossos próprios limites. Aquela estória de “se eu posso você também pode” não é verdadeira. As pessoas respondem aos acontecimentos de acordo com os seus limites e não aos nossos.

Os relacionamentos, sejam eles profissionais, pessoais, familiares, ficam muito mais fáceis quando compreendemos isso: as pessoas não fazem o que querem mas o que podem fazer!

Eu ainda estou tentando decorar isso Sr.Paixão, mas não me impus esse limite ... pode acreditar, eu vou conseguir!

(Lindolfo Ernesto Paixão atuou mais de 40 anos no setor de energia elétrica. Faleceu em julho de 2009 ...)